sexta-feira, 31 de julho de 2015

VIOLÕES QUE CHORAM...


Ah! plangentes violões dormentes, mornos,
soluços ao luar, choros ao vento...
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
bocas murmurejantes de lamento.

Noites de além, remotas, que eu recordo,
noites da solidão, noites remotas
que nos azuis da fantasia bordo,
vou constelando de visões ignotas.

Sutis palpitações à luz da lua,
anseio dos momentos mais saudosos,
quando lá choram na deserta rua
as cordas vivas dos violões chorosos.

Quando os sons dos violões vão soluçando,
Quando os sons dos violões nas cordas gemem,
e vão dilacerando e deliciando,
rasgando as almas que nas sombras tremem.

Harmonias que pungem, que laceram,
dedos nervosos e ágeis que percorrem
cordas e um mundo de dolências geram

Gemidos, prantos, que no espaço morrem...
e sons soturnos, suspiradas mágoas,
mágoas amargas e melancolias,
no sussurro monótono das águas,
noturnamente, entre ramagens frias.

Vozes veladas, veludosas vozes,
volúpias dos violões, vozes veladas,
vagam nos velhos vórtices velozes
dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.

Tudo nas cordas dos violões ecoa
e vibra e se contorce no ar, convulso...
tudo na noite, tudo clama e voa
sob a febril agitação de um pulso.

Que esses violões nevoentos e tristonhos
são ilhas de degredo atroz, funéreo,
para onde vão, fatigadas do sonho,
almas que se abismaram no mistério.

Sons perdidos, nostálgicos, secretos,
finas, diluídas, vaporosas brumas,
longo desolamento dos inquietos
navios a vagar à flor de espumas.

Oh! languidez, languidez infinita,
nebulosas de sons e de queixumes,
vibrado coração de ânsia esquisita
e de gritos felinos de ciúmes!

Que encantos acres nos vadios rotos
quando em toscos violões, por lentas horas
vibram, com a graça virgem dos garotos,
um concerto de lágrimas sonoras!

Quando uma voz, em trêmulos, incerta,
palpitando no espaço, ondula, ondeia,
e o canto sobe para a flor deserta,
soturna e singular da lua cheia.

Quando as estrelas mágicas florescem,
e no silêncio astral da imensidade
por lagos encantados adormecem
as pálidas ninféias da saudade!

Como me embala toda essa pungência,
essas lacerações como me embalam,
como abrem asas brancas de clemência
as harmonias dos violões que falam!

Que graça ideal, amargamente triste,
nos lânguidos bordões plangendo passa.
Quanta melancolia de anjo existe
nas visões melodiosas dessa graça...

Que céu, que inferno, que profundo inferno,
que ouros, que azuis, que lágrimas, que risos,
quanto magoado sentimento eterno
nesses ritmos trêmulos e indecisos...

Que anelos sexuais de monjas belas
nas ciliciadas carnes tentadoras,
vagando no recôndito das celas,
por entre as ânsias dilaceradoras...

Quanta plebéia castidade obscura
vegetando e morrendo sobre a lama,
proliferando sobre a lama impura,
como em perpétuos turbilhões de chama,
que procissão sinistra de caveiras,
de espectros, pelas sombras mortas, mudas...

Que montanhas de dor, que cordilheiras
de agonias aspérrimas e agudas.
Véus neblinosos, longos, véus de viúvas
enclausuradas nos ferais desterros,
errando aos sóis, aos vendavais e às chuvas,
sob abóbadas lúgubres de enterros:

Velhinhas quedas e velhinhos quedos,
cegas, cegos, velhinhas e velhinhos,
sepulcros vivos de senis segredos,
eternamente a caminhar sozinhos;

E na expressão de quem se vai sorrindo,
com as mãos bem juntas e com os pés bem juntos
e um lenço preto o queixo comprimindo,
passam todos os lívidos defuntos...

E como que há histéricos espasmos
na mão que esses violões agita, largos...
e o som sombrio é feito de sarcasmos
e de sonambulismos e letargos.

Fantasmas de galés de anos profundos
na prisão celular atormentados,
sentindo nos violões os velhos mundos
da lembrança fiel de áureos passados;

meigos perfis de tísicos dolentes
que eu vi dentre os violões errar gemendo,
prostituídos de outrora, nas serpentes
dos vícios infernais desfalecendo;

tipos intonsos, esgrouviados, tortos,
das luas tardas sob o beijo níveo,
para os enterros dos seus sonhos mortos
nas queixas dos violões buscando alívio;

corpos frágeis, quebrados, doloridos,
frouxos, dormentes, adormidos, langues,
na degenerescência dos vencidos
de toda a geração, todos os sangues;

marinheiros que o mar tornou mais fortes,
como que feitos de um poder extremo
para vencer a convulsão das mortes,
dos temporais o temporal supremo;

Veteranos de todas as campanhas,
enrugados por fundas cicatrizes,
procuram nos violões horas estranhas,
vagos aromas, cândidos, felizes.

Ébrios antigos, vagabundos velhos,
torvos despojos da miséria humana,
têm nos violões secretos Evangelhos,
toda a Bíblia fatal da dor insana.

Enxovalhados, tábidos palhaços
de carapuças, máscaras e gestos
lentos e lassos, lúbricos, devassos,
lembrando a florescência dos incestos;

todas as ironias suspirantes
que ondulam no ridículo das vidas,
caricaturas tétricas e errantes
dos malditos, dos réus, dos suicidas;

toda essa labiríntica nevrose
das virgens nos românticos enleios,
os ocasos do amor, toda a clorose
que ocultamente lhes lacera os seios;

toda a mórbida música plebéia
de requebros de fauno e ondas lascivas;
a langue, mole e morna melopéia
das valsas alanceadas, convulsivas;

tudo isso, num grotesco desconforme,
em ais de dor, em contorções de açoites,
revive nos violões, acorda e dorme
através do luar das meias-noites!



CRUZ E SOUSA







CÁRCERE ÍNTIMO



Por quê insistes em bater nessa porta?
Não sei o que acontece contigo!
Peço ao mais sábio dos homens
que me dê um pouco de seu entendimento
para que meus neurônios fatigados
possam restabelecer sua harmonia interior.


Eu perdi a chave da porta
mas se puderes entrar sem abri-la te darei licença.

Permita-me beber um pouco do vosso veneno oh, desconhecido;
quem sabe serei capaz de resistir à sua desgraça.




Se tu que bates nessa porta
conseguires chegar até mim
sem que eu te veja entrar,
verei um milagre! Sim, um milagre!

Tu não és miserável como eu,
nem eu miserável como tu,
porém, se de tudo que comeres
quiseres me dar teu sobejo
é porque acreditas que minha fome é bem maior que a tua.

Ah, criatura infeliz,
esses abutres que querem comer a minha carniça,
deleitarce-ão mais ainda sobre tua carcaça podre.


Será que não vês que somos iguais?


Ficas aí fora congelando na neve que cai
enquanto eu me aqueço frente à lareira;
mas tu não tens paredes ao teu redor, eu sim!

Tu bates nessa porta e eu não tenho a chave,
tu queres entrar, queres entrar, queres entrar,
e eu quero sair e não posso. Agora dizes se não somos iguais?

Tens pesadelos horríveis
enquanto meu sono é tranquilo,
mas tu acordas sempre antes de mim,
teu pesadelo logo te deixa
e quando me vem a consciência 
de súbito vejo que minha realidade
não é muito melhor que a tua.

Do outro lado da porta vociferas urros insanos,
me humilhas e agrides com palavras cruéis,
fazes de tudo para me ferir,
e essas injúrias que proferes contra mim
fedem mais que o pus que sai de todas as feridas;
como ousas, se não te agrido nunca?




Decerto queres obrigar-me a abrir a porta
como se eu pudesse abri-la!

Tu não és mais que eu,
nem eu mais que tu,
somos iguais, não percebes?

Teu semblante denota certa hipocrisia que eu não aceito,
embora meu caráter seja um tanto quanto duvidoso.

Finalizo portanto meu pensamento desejando-te a morte,
pois se somos iguais meu instinto suicida
te chama pra perto de mim.



Deste-me um beijo através da parede,
tua saliva corroeu-me como ácido,
porém deliciei-me com raro prazer
embora o gosto fosse de colostro saído de um peito virgem.

Mandaste-me uma carta, mas não pude ler
porque escreveste numa língua que não conheço.

Ora, como podes me surpreender tanto
se de fato somos iguais?

Mas tão de repente vieste tamanha fúria,
com tal violência batera na porta e a pusera no chão.
Ao entrares vi grande pavor em teu rosto;
talvez o medo de finalmente estar diante de mim,
viste-me então, ali, logo ali na tua frente
num corredor escuro, 
caístes de joelhos aos meus pés
ao perceberes a escuridão em que eu vivia.





ao me dar conta que finalmente poderia sair
segurei forte tua mão que estava suada como a minha
e apertando os olhos fui chegando na porta
com certo temor que tomava conta de mim,
ao pisar fora da casa deparei-me com o primeiro 
raio de sol da minha vida.


Vês! Agora já não somos iguais!




AUTORIA: FLÁVIA REGINA.


quarta-feira, 29 de julho de 2015

IN EXTREMIS





Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia 
Assim! de um sol assim!
Tu, desgrenhada e fria, 
Fria! postos nos meus os teus olhos molhados, 
E apertando nos teus os meus dedos gelados...


E um dia assim! de um sol assim! E assim a esfera
Toda azul, no esplendor do fim da primavera!
Asas, tontas de luz, cortando o firmamento!
Ninhos cantando! Em flor a terra toda! O vento
Despencando os rosais, sacudindo o arvoredo...


E, aqui dentro, o silêncio... E este espanto! e este medo!
Nós dois... e, entre nós dois, implacável e forte, 
A arredar-me de ti, cada vez mais, a morte...


Eu, com o frio a crescer no coração, - tão cheio
De ti, até no horror do derradeiro anseio!
Tu, vendo retorcer-se amarguradamente,
A boca que beijava a tua boca ardente,
A boca que foi tua!


E eu morrendo! e eu morrendo 
Vendo-te, e vendo o sol, e vendo o céu, e vendo
Tão bela palpitar nos teus olhos, querida, 
A delicia da vida! a delícia da vida!



OLAVO BILAC



ARTE NEGRA. SEMPRE ARTE!



SATURNO DEVORANDO UM FILHO









Autor:
Francisco de Goya

Data:
1819-1823

Dimensões:
146 cm cm × 83 cm cm

Localização:
Museu do Prado, Madrid



O quadro Saturno devorando um filho (espanhol: Saturno devorando a un hijo) é uma das pinturas a óleo sobre reboco que fazia parte da decoração dos muros da casa que Francisco de Goya adquiriu em 1819 chamada a Quinta del Sordo. Pertence, portanto, à série das Pinturas negras.
A obra, junto com as restantes "Pinturas negras" foi trasladada de reboco para tela em 1873 por Salvador Martínez Cubells por encomenda de Frédéric Émile d'Erlanger, um banqueiro belga, que tinha intenção de vendê-las na Exposição Universal de Paris de 1878. Contudo, as obras não atraíram compradores e ele próprio doou-as, em 1876, ao Museu do Prado, onde atualmente se expõem.
O afresco ocupava um lugar à esquerda da janela, no muro do lado leste, oposto à entrada do corredor do piso térreo da Quinta del Sordo.
Representa o deus Cronos, como é habitual indiferenciado de Chronos (Saturno na mitologia romana), no ato de devorar um dos seus filhos. A figura era um emblema alegórico do passar do tempo, pois Cronos comia os filhos recém nascidos de Reia, sua mulher, por temor a ser destronado por um deles.

Análise do quadro


O tema de Saturno está relacionado, segundo Freud, com a melancolia e a destruição e estes traços estão presentes nas pinturas negras. Com expressão terrível, Goya situa-nos frente do horror canibal das fauces abertas, os olhos em branco, o gigante envelhecido e a massa informe do corpo sanguinolento do seu filho.
O quadro não somente alude ao deus Chronos, que imutável governa o curso do tempo, senão que também era o reitor do sétimo céu e padroeiro dos septuagenários, como o era já Goya.
O ato de comer o seu filho foi visto, do ponto de vista da psicanálise, como uma figuração da impotência sexual, sobretudo ao compará-lo com outro dos afrescos que decoravam a estância, Judite e Holofernes, tema pictórico no qual a bela judia Judite convida o velho rei assírio Holofernes, então em guerra contra Israel, para um banquete libidinoso e, após se unir sexualmente, decapita-o.
O filho devorado, com um corpo já adulto, ocupa o centro da composição. Assim como na pintura de Judite e Holofernes, um dos temas centrais é o do corpo humano mutilado. Não somente o é o corpo atroz do menino, mas também, mediante o enquadre recolhido e a iluminação de claro-escuro extraordinariamente contrastada, as pernas do deus, sumidas a partir do joelho na negrura, num vácuo imaterial.
Emprega uma gama de brancos e negros, aplicada em manchas de cor grossas, só rota pelo ocre das carnações e a chama fúlgida em branco e vermelho da carne viva do filho. Sánchez Cantón comparou-o com o que pintara Rubens em 1636 para a Torre da Parada do Palácio de El Pardo de Madrid. No seu estudo assinala como a violência do de Goya é muito superior, despojado do seu pretexto de mitologia, prefigurando com isso o expressionismo.
Outra análise pode ser feita, se tomando por base a mitologia grega onde a imagem que se tem de Chronos (chamado de Saturno pelos romanos), é a de um homem que devora o seu próprio filho, num ato de canibalismo difícil de compreender na actualidade. No entanto, esta representação deve-se ao fato de os antigos gregos tomarem Chronos como o criador do tempo, logo de tudo o que existe e possa ser relatado, a exemplo do Deus único e criador dos cristãos, judeus e muçulmanos, sendo que, por este fato, se consideravam como filhos do tempo (Chronos), e uma vez que é impossível fugir do tempo, todos seriam mais cedo ou mais tarde vencidos (devorados) pelo tempo.



FRANCISCO DE GOYA







Origem: Wikipédia










segunda-feira, 27 de julho de 2015

NOOOOOOOOOOSA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


Qual a maior palavra da língua portuguesa?





Segura aí: é pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico. Abaixo, você vai ver que o significado desse palavrão de 46 letras é simples. O vocábulo ganhou registro definitivo em 2001, quando apareceu no dicionário Houaiss e fez outras palavras enormes comerem poeira. Antes, o título pertencia ao advérbio "anticonstitucionalissimamente", que tem 29 letras e descreve algo que é feito contra a constituição. O vice era "oftalmotorrinolaringologista", com 28 letras, que se refere ao especialista nas doenças dos olhos, ouvidos, nariz e garganta. O Houaiss é o campeão de palavras na língua portuguesa, com 228 500 verbetes. Ele não traz, por exemplo, palavras da química que têm dezenas de sílabas, usadas para definir compostos. Uma delas é tetrabromometacresolsulfonoftaleína, que tem 35 letras e indica um corante usado em reações. "Palavras como essa são muito específicas e só aparecem em glossários de terminologia química", diz o filólogo Mauro Villar, do Instituto Antônio Houaiss.

Olha o palavrão  Entenda cada parte desse vocábulo de 46 letras
Pnmeumoultramicroscópico
Pneumo - Pulmão
Ultra - Fora de
Microscópico - Muito pequeno
Silicovulcanoconiótico
Sílico - Vem de silício, um elemento químico presente no magma vulcânico
Vulcano - Vindo de um vulcão
Coniótico - Vem de coniose, doença causada por inalação de pós em suspensão no ar
Tudo isso junto...

Pessoa que sofre de uma doença pulmonar, a pneumoconiose, causada pela aspiração de cinzas vulcânicas!


Por - Marina Motomura

SENSÍVEL DEMAIS!




Ter Medo? De quem terei?

Não da Morte – quem é ela?

O Porteiro de meu Pai

Igualmente me atropela.

Da Vida? Seria cômico

Temer coisa que me inclui

Em uma ou mais existências –

Conforme Deus estatui.


De ressuscitar? O Oriente

Tem medo do Madrugar

Com sua fronte sutil?

Mais me valera abdicar!


                                       EMILY DICKINSON



ABAPORU


Abaporu é uma pintura a óleo da artista brasileira Tarsila do Amaral.





Hoje é a tela brasileira mais valorizada no mundo, tendo alcançado o valor de US$ 2,5 milhões, pago

pelo colecionador argentino Eduardo Costantin em 1995 em leilão realizado na Christies, o quadro pertencia ao empresário brasileiro Raul Fobes, desde 1985. Encontra-se exposta no Museu de arte latino-americana de Buenos Aires (MALBA).

Foi pintada em óleo sobre tela em 1928 por Tarsila do Amaral como presente de aniversário ao escritor Oswald de Andrade, seu marido na época. O nome da obra foi conferido por ele e pelo poeta Raul Bopp, que indagou a Oswald ao ver o quadro: "Vamos fazer um movimento em torno desse quadro?"
Os dois escritores, escolheram um nome para a obra, que veio a ser Abaporu, que vem dos termos em tupi aba (homem), pora (gente) e ú (comer), significando "homem que come gente".

O nome foi a referência para a criação da Antropofagia modernista brasileira, ou Movimento Antropofágico, que se propunha a deglutir a cultura estrangeira e adaptá-la ao Brasil.






TARSILA DO AMARAL



Fonte: - Wikipédia