quarta-feira, 29 de julho de 2015

IN EXTREMIS





Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia 
Assim! de um sol assim!
Tu, desgrenhada e fria, 
Fria! postos nos meus os teus olhos molhados, 
E apertando nos teus os meus dedos gelados...


E um dia assim! de um sol assim! E assim a esfera
Toda azul, no esplendor do fim da primavera!
Asas, tontas de luz, cortando o firmamento!
Ninhos cantando! Em flor a terra toda! O vento
Despencando os rosais, sacudindo o arvoredo...


E, aqui dentro, o silêncio... E este espanto! e este medo!
Nós dois... e, entre nós dois, implacável e forte, 
A arredar-me de ti, cada vez mais, a morte...


Eu, com o frio a crescer no coração, - tão cheio
De ti, até no horror do derradeiro anseio!
Tu, vendo retorcer-se amarguradamente,
A boca que beijava a tua boca ardente,
A boca que foi tua!


E eu morrendo! e eu morrendo 
Vendo-te, e vendo o sol, e vendo o céu, e vendo
Tão bela palpitar nos teus olhos, querida, 
A delicia da vida! a delícia da vida!



OLAVO BILAC



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