FLORENCE GRIFFITH -
JOYNER
Em
apenas uma temporada, a norte-americana se sagrou tricampeã olímpica;
resultados expressivos levantaram dúvidas sobre possível doping, mas nada foi
comprovado até hoje contra a corredora.
Florence Griffith-Joyner, nascida a 21 de dezembro de 1959, em
Los Angeles, foi a maior velocista de todos os tempos e uma das atletas mais
consagradas da história do atletismo, sendo, ainda hoje, a recordista mundial
dos 100 metros, cuja marca de 10,49 segundos parece quase impossível de bater.
Florence teve, ao mesmo tempo uma fulgurante e meteórica carreira.
A atleta norte-americana alcançou vitórias e marcas incríveis apenas numa única
temporada, a de 1988, em que se sagrou tricampeã olímpica, triunfando nas
provas de 100 metros, 200 metros e no revezamento de 4 x 100 metros, além da
medalha de prata no revezamento 4 x 400 metros.
Em 16 de julho de 1988, no estádio de atletismo da Universidade de
Indiana, as eliminatórias para os Jogos Olímpicos de Seul se transformaram num
festival de recordes. Antes de 1988, muito embora já fosse uma das
melhores sprinters dos Estados Unidos, o histórico
de Florence apresentava apenas duas medalhas de prata, ambas
conquistadas na prova de 200 metros (nas Olimpíadas de Los Angeles, em 1984, e
nos Mundiais de Atletismo de Roma, em 1987) e um ouro, na competição na Itália,
no revezamento 4x100 metros.
Seu melhor tempo pessoal antes de viajar para as eliminatórias de
Indiana era de 10,96 segundos, tempo muito bom, mas ainda longe do recorde
mundial. Na primeira série, no entanto, correu assombrosos 10,60, porém com
vento favorável. Nas quartas de final, fez 10,49. O recorde mundial de
10,76 estabelecido por Evelyn Ashford, quatro anos antes, tinha sido quebrado
por 0,27 seg. No entanto, um problema técnico anulou o recorde: o anemômetro
marcou 0,0 de velocidade do vento. Um idêntico anemômetro para o salto triplo,
colocado a alguns metros do outro, marcou 4,3 m/s.
No dia seguinte, ganhou a semifinal com 10,70 e triturou o recorde na
final com 10,61. Em 24 horas, correu os três 100 metros mais rápidos da
história. E, antes que as eliminatórias terminassem, esmagou também o recorde
dos 200 metros.
ATÉ 1987 TRABALHAVA COMO BANCÁRIA E
CABELEIREIRA
Muitas pessoas estavam mais que surpresas, estavam incrédulas. O que
tornava seu sucesso em Indiana ainda mais ilógico é que ela havia abandonado o
atletismo em 1986, para se dedicar ao seu emprego de bancária e, à noite, de
cabeleireira. Quando decidiu voltar em abril de 1987, estava com quilos de
sobrepeso. Em pouco mais de quatro meses, conquistou a medalha de prata no
Campeonato Mundial de Roma.
Flo-Jo, como era carinhosamente conhecida, afirmou que seu progresso era
devido a uma técnica aperfeiçoada, uma dieta especializada e uma total
dedicação aos treinamentos, especialmente na academia. Disse mais que falara
longamente com Ben Johnson e adaptou seu treinamento ao dele: “Se você quer
correr como um homem, você deve treinar como um homem” declarou.
Na verdade, até então, Flo-Jo era conhecida pelos treinos com o técnico
Bob Kersee, por usar unhas muito compridas e envergar equipamentos
extravagantes. Ela retornou à carreira incentivada por Kersee e motivada pelo
seu casamento, em 1987, com o então campeão olímpico do salto triplo,
Al Joyner, irmão de Jackie Joyner, quem por sua vez fora casada com o
treinador Kersee.
Quando se iniciou a fase de preparação olímpica para os Jogos de 1988,
surgiu melhor do que nunca: alma transfigurada e corpo mais forte, musculoso,
poderoso, passando até a correr de forma diferente da
habitual. Florence treinou intensamente, privilegiando a preparação
física com halteres e corridas de resistência.
Em Seul, Flo-Jo ganhou o ouro nos 100 metros, nos 200 metros, no
revezamento 4x100 metros e prata nos 4x400 metros. Nos 100 metros, quebrou o
recorde olímpico duas vezes ganhou a final com o tempo de 10,54, mas com
vento a favor. Nas semifinais dos 200 metros, bateu o recorde mundial em 0,15
seg, e, em menos de duas horas, bateu novamente na final o melhor tempo em 0,22
seg, com o tempo de 21,34 segundos. Mesmo no revezamento 4 x 400 metros, Florence efetuou
o último percurso no fantástico tempo de 48,07 segundos, cuja distância não era
sua especialidade.
ESPANTO E ADMIRAÇÃO, DÚVIDAS E SUSPEITAS
Os tempos fabulosos alcançados e a maneira aparentemente fácil como
conquistou as 4 medalhas olímpicas em 1988 provocaram dois tipos de reação:
espanto e admiração, por um lado, dúvidas e suspeitas, por outro. Para se ter
uma ideia do que representa o recorde de Florence nos 100 metros, basta
afirmar que em 1998 - ano da sua morte – seu recorde mundial de 10,49 segundos
era ainda 16 centésimos melhor que a da segunda mulher mais rápida, Marion
Jones (10,65 segundos).
Os Jogos Olímpicos de Seul seriam dominados pelos rumores de doping.
"Florence correu 10,49 nas eliminatórias olímpicas e o pessoal disse
‘vento’. Fez aqui 21,34 e o pessoal acusou ‘doping’, lamuriou-se
Al Joyner.
Griffith-Joyner passou por 11 testes de doping em 1988. O príncipe
Alexandre de Mérode, presidente da
comissão médica do Comitê Olímpico Internacional, afirmou à época que ela foi
particularmente submetida a rigorosos e diversificados testes. “Jamais
encontramos algo e não restou a mais mínima suspeita”, declarou.
Infelizmente para Griffith-Joyner, muitos atletas e comentaristas
consideraram sua intuição mais confiável que os laboratórios do COI. Na Vila
Olímpica, os atletas viam-na com suspeita. Joaquim Cruz, um meio-fundista
brasileiro que ganhou o ouro nos 800 metros em 1984 e prata em Seul, disse:
“Florence, em 1984, podia ser vista como uma pessoa extremamente feminina. Hoje
ela parece mais homem que mulher”.
Em março de 1989, Charlie Francis, o desacreditado técnico de Ben
Johnson, implicou-a, durante um depoimento ao Inquérito Dubin do Canadá sobre o
doping no esporte. Al Joyner retrucou duramente: “Ele é sujo”. Mais
tarde, no mesmo ano, Darrell Robinson, ex-corredor dos 400 metros, disse que
havia conseguido um hormônio de crescimento humano para Florence. Ela o
chamou de “compulsivo, louco, mentiroso lunático”.
PÓS-OLIMPÍADA
Após Seul, Flo-Jo estava otimista quanto ao futuro. Planejou defender
seus títulos em Barcelona em 1992 e falou em competir nos 400 metros. Em
fevereiro de 1989, no entanto, anunciou abruptamente que iria parar de
competir.
A decisão foi anunciada justo quando foi introduzido o teste aleatório
obrigatório de doping. Outra fofoca não comprovada insinuava um positivo em um
dos testes, possivelmente ainda em Seul. Entretanto, para salvar o atletismo de
outro constrangimento após o escândalo Johnson, teria sido oferecida a ela a
oportunidade de se aposentar dignamente, sem que o resultado do teste jamais se
tornasse público.
Afastada das pistas, passou a desenhar roupas, escreveu um par de
romances e uma série de livros infantis lançando um personagem de nome Barry
Bam Bam, abriu uma firma de cosméticos, gravou vídeos de boa forma e voltou sua
atenção para o teatro. Em 1990 teve uma filha, Mary, homenagem à mãe
de Joyner, que morreu aos 38 anos.
Um par de anos depois, anunciou sua intenção de retornar ao atletismo.
“Sempre gostei das longas distâncias era meu sonho competir numa maratona
olímpica”, disse, lançando suas vistas para as olimpíadas de Atlanta
(1996). No entanto, durante um voo nesse mesmo ano,
Griffith Joyner sofreu um ataque epiléptico. Passou a noite no
hospital, porém nenhum sintoma grave foi detectado. Em setembro de 1998, quando
tinha apenas 38 anos, faleceu repentinamente durante o sono, tendo o médico
forense concluído que tinha morrido asfixiada em seu próprio travesseiro
durante um ataque epiléptico. Al Joyner exigiu que seu corpo fosse
rigorosamente testado para sinais de esteróide. Nada foi encontrado.
O problema era que a ascensão de Flo-Jo foi incrivelmente rápida e seus
tempos extraordinariamente bons. Sua carreira como corredora de alto nível
durou efetivamente três meses e oito corridas. Com somente 8 provas, detém os
três melhores e 5 dos 10 mais rápidos tempos da história. Nestes 27 anos desde
1988, o recorde masculino dos 100 metros foi batido 15 vezes. A marca
de Florence não só permanece firme, como ninguém conseguiu sequer
chegar perto dela. Somente três mulheres chegaram a correr abaixo dos 10,70.
O recorde de Griffith Joyner nos 200 metros é também
categoricamente imbatível. A única mulher a ficar a menos de 0,30 segundo foi
Marion Jones. A jamaicana Veronica Campbell-Brown, conquistou o ouro nos Jogos
Olímpicos de Atenas (2004) e de Pequim (2008), tem como seu melhor tempo
pessoal 21,74, ou seja, 0,4 segundo mais lento
que Griffith Joyner em Seul.
FLO-JO, COMO ERA CONHECIDA, GANHOU A MEDALHA DE OURO NOS 100 METROS EM SEUL
FLORENCE DURANTE EXERCÍCIOS INICIAIS ANTES DAS PROVAS DE ATLETISMO NA CAPITAL SUL-COREANA
FLORENCE GRIFFITH-JOYNER DURANTE OS JOGOS OLÍMPICOS DE SEUL, EM 1988
FLORENCE GRIFFITH - JOYNER E O PRESIDENTE RONALD REAGAN


VÍDEO
FONTE: ÓPERA MUNDI.
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