Uma escultura que já foi
exibida em São Paulo gerou uma polêmica que levou à suspensão de uma mostra
coletiva de artistas no Museu de Arte Contemporânea de Barcelona (MACBA), em
meio a acusações de censura.
A escultura chamada Não Vestida para
Conquistar, Haute Couture 04 Transport, da artista austríaca Inés Doujak, mostra um cachorro da raça
pastor alemão que parece penetrar uma mulher que usa um capacete de minerador,
uma alusão à sindicalista e feminista boliviana Domitila Barrios de Chúngura.
A
mulher, por sua vez, penetra Juan Carlos I, que foi rei da Espanha até 19 de
junho de 2014, quando abdicou do trono. O ex-monarca, por sua vez, é mostrando
vomitando flores sobre vários capacetes da Schutzstaffel, a SS nazista.
Esta obra é parte do
projeto Loomshuttles
/ Warpaths (“Lançadeiras
de Tear/Trilhas de Guerra”), uma parceria entre Doujak e o artista britânico
John Barker, que foi exibido na 31ª Bienal de São Paulo, no ano passado (2014).
A
peça fazia parte da mostra “A Besta e o Soberano”, organizada pelo MACBA e a
organização Württembergischer Kunstverein (WKV), de Stuttgart, na Alemanha. A
exposição seria aberta nesta sexta-feira em Barcelona.
No
entanto, esta representação do ex-monarca espanhol levou o diretor do MACBA,
Bartomeu Marí, a pedir, na última hora, a retirada da escultura, por não a
considerar “apropriada”.
Como
os curadores da mostra não concordaram, a exposição toda foi suspensa no último
minuto.
“A
obra se inscreve na tradição da paródia, esculturas de carnaval e caricaturas
iconoclastas. Não pretendia insultar uma pessoa privada, mas reformular
criticamente uma representação coletiva do poder soberano”, disseram os
curadores da mostra em um comunicado divulgado pela WKV e enviado à BBC Mundo.
“A
retirada da peça de Doujak não apenas teria comprometido irreparavelmente todo
o conceito da exposição, mas também questionado nossa visão de arte, a
liberdade de expressão e o papel do museu na sociedade contemporânea.”
“Sob
estas circunstâncias, o ato de cancelar as exposições é um ato de censura”, afirmam
os curadores no documento.
‘Difícil
entender’
O MACBA, por sua vez, divulgou um outro comunicado oficial lamentando
não ter podido chegar a um acordo com os curadores que poderia ter permitido a
abertura da exposição, “já que, no fim, o prejudicado é o nosso público e nossa
permanente vocação de serviço”.
“É difícil entender e compartilhar algumas decisões. E também é difícil
explicá-las com serenidade no turbilhão midiático que estamos vivendo. Estamos
certos de que encontraremos o espaço e o momento para compartilhar o debate
que, sem dúvida, é gerado depois de uma situação como esta”, informou o museu
em sua página na web.
E o debate realmente já começou na mídia e nas redes sociais.
Nas redes, foram discutidos os méritos da obra de Doujak e o papel da
arte contemporânea. Também houve debates sobre os riscos da censura e os
limites da liberdade de expressão, assim como sobre a relação dos espanhóis e
suas instituições públicas com a monarquia.
Esta não é a primeira vez que representações satíricas de um monarca do
país geram ações denunciadas como de “censura”.
Na Espanha, a ideia de
que a figura do rei simboliza a união do Estado está consagrada na Constituição
de 1978, onde é estipulado que esta união é “inviolável”.
Desde
então, muitos consideram que atacar o rei o é o mesmo que atacar o Estado.
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