terça-feira, 16 de junho de 2015

MUSA DO APOCALIPSE

Apareceste assim como natureza vã,
bailando encantada pela flauta de Pã,
rasgando como um parto a infinita manhã,
tocada por mão divina como se santa fosse.

Chegaste atroz e furiosa como um pesadelo,

trouxeste a cor do sol sobre o teu cabelo,
teus olhos, dois mistérios como fogo e gelo,
e teu corpo tinha, pois, um gosto acre e doce.
















Perdeste logo tua virgindade urgente,
para um raio de sol, desesperadamente,
e derramaste com teu gozo incandescente,
o mais delicioso mel de teu interior.

Teu vestido de lua tinha forma de elipse,

eras musa inspiradora do apocalipse,
e na força enigmática do eclipse
tiveste orgasmo arrebatador.

Como bacante indomável de desejo te adornavas,

e com grande volúpia que dançavas,
parecias voar enquanto sonhavas,
como ouvisse um cântico lascivo profundo.

Para saber-te tenho vontade impoluta,

pois não foste modelada com argila bruta,
e tens voz tão clara que se escuta
no mais longínquo abismo deste mundo.

Teu alvo e belo riso cristalizado,

voou de teu rosto formoso, encantado,
qual fosse pássaro receoso, fatigado da maldita prisão em que vivia.

Todo o conjunto de tua existência maravilhosa,

infinitamente grande, larga, poderosa,
candidamente pura, casta e suntuosa,
parecia mais longe cada vez que te via.

Meu ser não mais te vislumbrara,

tua ausência de espanto me tomara,
e numa dolorosa prece rara,
desesperei-me para de novo vê-la.

Descia sobre mim um vulto enegrecido,

e mais que de repente num céu espavorido,
descobri num momento enlouquecido,
que agora tu eras uma estrela.


AUTORIA: FLÁVIA REGINA. 

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