O teu nome está inscrito na parte mais úmida de
meus testículos suados; inventor, pretensioso jogral dum tempo de riqueza e
providências ocultas, cuspo diariamente em tua enorme e curiosa mão aberta no
ar de sempres ontens hojeficados pela hipocrisia das máculas vinculadas aos
artelhos de alguns plantígrados sem denodo. Inventor, vê, a tua vaidade vem
moendo meus ossos há oitocentos bilhões de sóis iguais-desiguais, queimando as
duas unhas dos mínimos obscurecidos pela antipatia da proporção inelutável. Inventor
da roda, louvado a cada instante, nos laboratórios de Harvard, nas ruas de toda
cidade, no soar dos telefones, eu te amaldiçoo, e principalmente porque não
creio em maldições. Vem cá, puto, comedor de aranhas e búzios homossexuais,
olha como todos os tristíssimos grãos de meu cérebro estão amassados pelo teu
gesto esquecido na sucessão parada, que até hoje tua mão desce sobre a madeira
sem forma, no cerne da qual todas as mecânicas espreitavam a liberdade que
viria de tua vaidade. Pois bem, tu inventaste o ressecamento precoce de minhas
afinidades sexuais, de minhas probabilidades inorgânicas, de meus apetites
pulverulentos; tu, sacana, cuja mão pariu toda a inquietação que hoje absorve o
reino da impossibilidade visual, tu, vira-bosta, abana-cu, tu preparavas aquela
manhã, diante de árvores e um sol sem aviso, todo este nefasto maquinismo
sevicioso, que rói meu fêmur como uma broca que serra meu tórax num alarma
nasal de oficinas de madeira. Eu estou soluçando neste edifício vastíssimo,
estou frio e claro, estou fixo como o rosto de Praxíteles entre as emanações da
ginástica corruptiva e emancipadora das obliterações documentárias. Eu estou,
porque tu vieste, e talhaste duma coxa de tua mãe a roda que ainda roda e
esmaga a tua própria cabeça multiplicada na inconformidade vulcânica das
engomadeiras e dos divergentes políticos em noites de parricídio. Não te
esquecerei jamais, perdigoto, quando me cuspiste o ânus obliterado, e aquele
sabor de alho desceu vertiginosamente até as articulações motoras dos passos
desfeitos definitivamente pela comiseração dos planetoides ubíquos. Agora estou
aqui, eu, roda que talhaste, e que agora te talha e te retalha em todos os
açougues de Gênova, e a tua grave ossada ficará à beira dum mar sujo e
ignorado, lambido de dia ou de noite pelas ondulações dum mesmo tempo
increscido; tua caveira acesa diante dos vendilhões será conduzida em pompa
pelos morcegos de Saint-Germain-des-Prés. Os teus dentes, odioso berne deste
planeta incorrigível, serão utilizados pelos hermafroditas sem amigos e pelas
moças fogosíssimas que às duas da manhã, após toda a sorte de masturbação,
enterram na vagina irritada e ingênua os teus queixais, caninos, incisivos,
molares, todos, numa saudação à tua memória inexorável.
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