Passeava com dois amigos ao pôr-do-sol – o céu ficou de súbito vermelho-sangue – eu parei, exausto, e inclinei-me sobre a mureta– havia sangue e línguas de fogo sobre o azul escuro do fjord e sobre a cidade – os meus amigos continuaram, mas eu fiquei ali a tremer de ansiedade – e senti o grito infinito da Natureza. Edvard Munch.
O Grito (no original Skrik)
é uma série de quatro pinturas de Edvard Munch, a mais célebre das quais
datada de 1893. A obra representa uma figura andrógina num
momento de profunda angústia e desespero existencial. O plano de fundo é a doca
de Oslofjord (em Oslo) ao pôr-do-Sol. O Grito é
considerado como uma das obras mais importantes do
movimento expressionista e adquiriu um estatuto de ícone cultural, a
par da Mona Lisa de Leonardo da Vinci.
A série tem quatro pinturas conhecidas: duas na posse do Museu
Munch, em Oslo, outra na Galeria Nacional de Oslo, e outra em colecção
particular. Em Maio deste ano, esta última tornou-se a pintura mais cara da
história a ser arrematada, num leilão, por 91 milhões de euros.O que é que O
Grito tem? "Fala por toda a gente, já todos nos sentimos sozinhos e
desesperados em algum momento da nossa vida", disse à BBC David Jackson.
Segundo este professor de História da Arte Escandinava da Universidade de
Leeds, "o impulso de olhar para as coisas que nos incomodam é parte
fundamental da condição humana".Com um ar desesperado, de boca aberta em
esgar e as mãos na cabeça, numa ponte com duas pessoas ao fundo, e um horizonte
com cores garridas, a figura central do quadro transmite uma angústia que tem
atravessado décadas, mantendo-se sempre actual. À época da realização da obra,
Munch estaria a retratar o seu próprio estado de espírito, que, como escreveu
Jonathan Jones, crítico de arte do britânico The Guardian, vivia infeliz e
alienado do mundo por não estar a ser reconhecido pelo seu trabalho. Hoje,
facilmente qualquer pessoa se pode identificar com esse estado e, por sua vez,
com o quadro.O psicólogo da Universidade de Reading Eugene McSorley compara o
efeito com o suscitado por registos de pessoas em sofrimento. "É muito
difícil para as pessoas ignorar estas imagens. Não conseguem desviar o
olhar", disse à BBC sobre o quadro que deixou de ser apenas o grito de
desespero de Munch para se tornar no grito da modernidade. Petter Olsen, o
norueguês que levou o quadro à praça, vai mais longe na definição da obra e
fala do "momento terrível em que o homem percebe o seu impacto na natureza
e as mudanças irreversíveis que iniciou". Daí a decisão de o vender ao fim
de tantos anos. "Sinto que é o momento para oferecer ao resto do mundo uma
hipótese de ter e apreciar este incrível trabalho, que é a única versão de O
Grito [das quatro existentes] que não está num museu da Noruega", disse o
empresário, cujo pai foi amigo e patrono de Munch, tendo adquirido vários
quadros ao artista. "É preciso saber quando é que temos de largar as
coisas", disse à televisão norueguesa NPK o empresário, que, com o
dinheiro da venda, vai financiar um novo museu, um hotel e um centro de arte na
Noruega.
Edvard Munch
FONTE: ESTÓRIAS DA HISTÓRIA
Nenhum comentário:
Postar um comentário