Márcia Pinheiro de Oliveira (Rio de Janeiro, 1959 - Rio de Janeiro, 2005) foi uma artista plástica brasileira.
Márcia
X estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage, Rio de Janeiro, no
início dos anos 1980, tendo adotado o
"X" ao final de seu nome após o desentendimento com a estilista
carioca Márcia Pinheiro, já que a artista havia desfilado com "não
roupas", uma capa preta e uma outra transparente e sem nada por baixo.
Utilizando
objetos eróticos, brinquedos infantis e objetos religiosos, suas performances e
instalações são marcadas pela relação sexo/infância, em que objetos
pornográficos são transformados em brinquedos infantis e estes em objetos
eróticos. O movimento em suas peças evidencia a percepção do objeto como um
corpo vivo. Sua perspectiva é subjetiva, o que confere a sua obra um caráter
quase autobiográfico.
Márcia X. iniciou sua carreira em 1980, com a performance Cozinhar-te, em colaboração com o grupo Cuidado Louças, no 3º Salão Nacional de Artes Plásticas, quando conquistou o Prêmio Viagem ao País. Outra performance foi Chuva de Dinheiro (1983), quando Márcia Pinheiro – nome que utilizava na época - e Ana Cavalcanti lançaram enormes notas de CR$ 5 de cima de um prédio na esquina da Av. Rio Branco e Nilo Peçanha, no Rio. |
Em
1986 a artista, em parceria com o poeta e artista Alex Hamburguer, realizou
intervenção intitulada Triciclage – Música para duas bicicletas e pianos,
quando entrou em cena em um pequeno velocípede durante apresentação de John
Cage e Jocy de Oliveira, da peça Winter Music, de autoria de Cage, na Sala
Cecília Meireles, no Rio.
Adotou o X. de seu nome quando realizou
performance em parceria com Alex Hamburguer na Bienal do Livro, em 1985, no
Rio. Vestida com duas “não roupas”, uma capa preta e uma outra transparente e
sem nada por baixo Márcia Pinheiro despiu-se até ficar nua. Na época a reação
da estilista homônima dizendo dedicar-se a vestir e não despir pessoas fez com
que a artista adotasse Márcia X. Pinheiro e posteriormente Márcia X.
Ainda em dupla com Alex Hamburguer Márcia X.
realizou diversos trabalhos. Dentre eles destacam-se: Sex Manisse, Macambíada,
Pathos, Paixões Paranormais e J. C. Contabilidade.
Em 1987 realizou uma parede com sabão em
pedra intitulada Soap Opera, no 6º Salão Paulista de Arte Contemporânea, na
Fundação Bienal de São Paulo. Durante o evento, em parceria com Aimberê César,
realizou um vídeo de mesmo nome.
Em 1988 realizou sua primeira instalação
individual, Ícones do Gênero Humano, no Centro Cultural Cândido Mendes, no Rio.
Durante o vernissage, com a galeria vazia, Márcia X. e Aimberê César
fotografaram e filmaram todos os presentes e, posteriormente, penduraram as
fotos nas paredes.
Em 1990 realiza sua primeira instalação
individual Coleção Gênios da Pintura na Galeria Casa Triângulo, São Paulo.
Em 1992 participa da instalação coletiva
Tromba do Olho, com a obra Bufê Buginganga, no Solar Grandjean de Montigny, no
Rio.
São desta época suas participações no CEP
20.000, evento de poesia capitaneado por Chacal e Guilherme Zarvos, no Espaço
Cultural Sérgio Porto. Dentre suas performances estavam Rambo/Rimbaud, OVIDEO e
Lovely Babies.
Durante os anos 90 Márcia X. iniciou uma de
suas mais marcantes séries – Fábrica Fallus – continuou a desenvolver até 2005.
Com Fábrica Fallus Márcia X. participou de
diversas exposições como o 18º Salão Nacional de Artes Plásticas, na FUNARTE
(Museu Nacional de Belas Artes) e Arte Erótica, no MAM do Rio, em 1993; Imagens
Indomáveis, na Escola de Artes Visuais Parque Lage, em 1994; Correspondências,
no Paço Imperial e Infância Perversa, no MAM do Rio, MAM da Bahia, Salvador, em
1995.
Também em 1995 Márcia X. realizou uma das
mais importantes individuais de sua carreira - Os Kaminhas Sutrinhas, no Espaço
Cultural Sérgio Porto, no Rio.
Segundo Sergio Bessa, em seu texto X-Rated
(duas ou três coisas qu’eu sei dela) para a Revista Item, “Márcia X.
repetidamente assume uma entidade infantil. Na instalação Arte Erótica (MAM,
1993) e na sua individual na Galeria Sérgio Porto (1995), por exemplo, a escala
dos trabalhos bem como a escolha de os instalar ao nível do chão convidava o
espectador a assumir uma postura (física) que o trouxesse ao nível da criança.
Para devidamente apreciar sua arte o espectador deveria regredir a um estado
infantil. Esta estratégia é ambiguamente passiva e agressiva, pois transforma
objetos pornográficos em brinquedos infantis, ao mesmo tempo que torna
brinquedos infantis em agressivos objetos eróticos”.
Em 1997 realizou a instalação individual
Soberba, no Paço Imperial, Rio.
Em 1999 participou da coletiva O Objeto Anos
60/90 no MAM do Rio e no Itaú Cultural, em São Paulo. Ainda no mesmo ano
participou de outra coletiva Máquinas de Arte, no Itaú Cultural, em São Paulo.
Em 2000 participou das coletivas
Deslocamentos do Feminino, no Conjunto Cultural da Caixa, no Rio; O Século das
Mulheres – Algumas Artistas, na Casa de Petrópolis – Instituto de Cultura,
Petrópolis; e Os 90, no Paço Imperial, Rio.
De 2001 a 2002 participou do Panorama da Arte
Brasileira, que itinerou pelo MAM de São Paulo, MAM do Rio e MAM de Salvador.
No mesmo ano participou da III Bienal do Mercosul, Porto Alegre e da Temporada
de Projetos, no Paço das Artes, em São Paulo.
Em 2001 Márcia X. e Ricardo Ventura
realizaram duas coletivas - Orlândia e Nova Orlândia - que reuniram artistas em
um imóvel vazio e em obras. A iniciativa da dupla mobilizou também curadores e
críticos de arte que também participaram com suas obras deste projeto coletivo.
As instalação foram consideradas pelos críticos de arte as mais importantes
mostras daquele ano. Em 2002 participou, em parceria com Ricardo Ventura, com a
performance Complexo de Alemão do evento Rio cena contemporânea, no Largo da
Carioca, Rio.
Em 2003 a dupla realiza outra coletiva:
Grande Orlândia - Artistas Abaixo da Linha Vermelha, a terceira e última da série.
No mesmo ano realizou também em parceria com Ricardo Ventura a performance
Poralelogramo no evento Alfândega, no Armazém 5, no Cais do Porto, Rio. No
mesmo ano participou do MIP- Manifestação Internacional de Performance,
organizada pelo Centro de Estudos e Informação de Arte, Belo Horizonte.
Em 2005 participou das exposições coletivas
Arte Brasileira Hoje, no MAM do Rio; O Corpo Na Arte Brasileira, no Itaú
Cultural, São Paulo; e Educação, Olha!, na galeria Gentil Carioca, Rio. E ainda
Muestras Rituales, com a vídeo-instalação Ação de Graças, na FUNCEB, Buenos
Aires, Argentina. No final do ano Márcia X. participará ainda da coletiva
Erótica, no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo, Rio e Brasília.
A partir de 2000 Márcia X. viu reconhecido
seu trabalho por parte da crítica especializada. Inúmeros convites se seguiram
e, entre os mais importantes podem ser destacadas suas participações no
Panorama das Artes (São Paulo e Rio) com a performance Pankake, na Bienal do
Mercosul (Porto Alegre), com a performance Ação de Graças, e na instalação Os
90 (Rio), com a instalação Reino Animal. É deste ano a performance Desenhando
com Terços, realizada pela primeira vez na Casa de Petrópolis. Nela Márcia X.,
de camisola branca, usou 400 terços para realizar desenhos de pênis no chão em
uma sala de cerca de 20 metros quadrados.
Em 2003 e 2004 realizou duas das mais
emblemáticas performances de sua carreira: Alviceleste e Cadeira Careca / Le
Chaise Chouve, respectivamente. Na primeira, nas Cavalariças da Escola de Artes
Visuais do Parque Lage, Márcia despejou tinta azul de caneta tinteiro em funis
de vidro pendurados no teto. A tinta escorria por finas correntes e impregnava
o chão de gesso formando manchas azuis. Na segunda, em parceria com Ricardo
Ventura, barbeou uma chaise longue Le Corbusier Le Cobusier, Charlotte Perriand
e Pierre Jeanneret, de couro de vaca, nos pilotis do edifício Gustavo Capanema,
antiga sede do Ministério da Cultura, no centro do Rio. Nesta homenagem a Le
Courbusier os artistas citaram também Le Dejeuner en Fourrure, de Meret
Oppeheim, obra fundamental para o movimento surrealista.
Com uma carreira firme e independente, imune
às críticas e sucessivos cortes de participação em salões e outras mostras e
também à censura e ao cancelamento de diversas performances, Márcia X. foi uma
artista como poucas. Sempre atenta à sua importância no meio artístico, Márcia
X. seguiu em frente, lutando contra o que chamou de “enorme descrédito em
relação à performance”.
Texto de Márcia sobre as performances
“Desenhando com Terços”, “Pancake”, “Ação de Graças”, “Ex-machina”,
“Cair em Si”, são performances/instalações criadas entre 2000 e 2002 reunindo
componentes característicos da religiosidade brasileira e de obsessões
culturalmente associadas às mulheres, como sexo, beleza, alimentação, rotina,
consumo e limpeza. Nestes trabalhos, imagens e ações habituais parecem
contaminados pela lógica dos milagres, contos da carochinha, sonhos e
pesadelos.
O uso de roupas brancas, camisolas e saias pregueadas, contribui para
evocar enfermeiras, freiras, noivas, estudantes, filhas de Maria, boas
meninas e boas moças, agindo no limite entre a consciência, o sono e o transe
religioso. As ações propostas – lavar terços, encher copos de mingau,
derramar leite condensado na cabeça, permanecer deitada, e outras – são
repetidas e executadas até a exaustão física, até o fim do espaço, do
material ou do tempo. Sabão em pó, grama, terços católicos, bacias, são
materiais e objetos muito comuns, mas ao serem usados de forma deslocada, como
os galos nos quais enfio meus pés (galos de verdade cravejados de pérolas) em
“Ação de graças”, levam-nos a perceber como são absurdas imagens até então
consideradas corriqueiras e inofensivas. Por exemplo, pessoas usando pantufas
em forma de coelhos de pelúcia. As instalações resultantes da ação das
performances permanecem em instalação, sendo simultaneamente o registro desta
ação.
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Muito autêntica essa artista!
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