quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

O "X" DA QUESTÃO!





Márcia Pinheiro de Oliveira (Rio de Janeiro, 1959 - Rio de Janeiro, 2005) foi uma artista plástica brasileira.
Márcia X estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage, Rio de Janeiro, no início dos anos 1980, tendo adotado o "X" ao final de seu nome após o desentendimento com a estilista carioca Márcia Pinheiro, já que a artista havia desfilado com "não roupas", uma capa preta e uma outra transparente e sem nada por baixo.

Utilizando objetos eróticos, brinquedos infantis e objetos religiosos, suas performances e instalações são marcadas pela relação sexo/infância, em que objetos pornográficos são transformados em brinquedos infantis e estes em objetos eróticos. O movimento em suas peças evidencia a percepção do objeto como um corpo vivo. Sua perspectiva é subjetiva, o que confere a sua obra um caráter quase autobiográfico.


Márcia X. iniciou sua carreira em 1980, com a performance Cozinhar-te, em colaboração com o grupo Cuidado Louças, no 3º Salão Nacional de Artes Plásticas, quando conquistou o Prêmio Viagem ao País. Outra performance foi Chuva de Dinheiro (1983), quando Márcia Pinheiro – nome que utilizava na época - e Ana Cavalcanti lançaram enormes notas de CR$ 5 de cima de um prédio na esquina da Av. Rio Branco e Nilo Peçanha, no Rio.
Em 1986 a artista, em parceria com o poeta e artista Alex Hamburguer, realizou intervenção intitulada Triciclage – Música para duas bicicletas e pianos, quando entrou em cena em um pequeno velocípede durante apresentação de John Cage e Jocy de Oliveira, da peça Winter Music, de autoria de Cage, na Sala Cecília Meireles, no Rio.
Adotou o X. de seu nome quando realizou performance em parceria com Alex Hamburguer na Bienal do Livro, em 1985, no Rio. Vestida com duas “não roupas”, uma capa preta e uma outra transparente e sem nada por baixo Márcia Pinheiro despiu-se até ficar nua. Na época a reação da estilista homônima dizendo dedicar-se a vestir e não despir pessoas fez com que a artista adotasse Márcia X. Pinheiro e posteriormente Márcia X.
Ainda em dupla com Alex Hamburguer Márcia X. realizou diversos trabalhos. Dentre eles destacam-se: Sex Manisse, Macambíada, Pathos, Paixões Paranormais e J. C. Contabilidade.
Em 1987 realizou uma parede com sabão em pedra intitulada Soap Opera, no 6º Salão Paulista de Arte Contemporânea, na Fundação Bienal de São Paulo. Durante o evento, em parceria com Aimberê César, realizou um vídeo de mesmo nome.
Em 1988 realizou sua primeira instalação individual, Ícones do Gênero Humano, no Centro Cultural Cândido Mendes, no Rio. Durante o vernissage, com a galeria vazia, Márcia X. e Aimberê César fotografaram e filmaram todos os presentes e, posteriormente, penduraram as fotos nas paredes.
Em 1990 realiza sua primeira instalação individual Coleção Gênios da Pintura na Galeria Casa Triângulo, São Paulo.
Em 1992 participa da instalação coletiva Tromba do Olho, com a obra Bufê Buginganga, no Solar Grandjean de Montigny, no Rio.
São desta época suas participações no CEP 20.000, evento de poesia capitaneado por Chacal e Guilherme Zarvos, no Espaço Cultural Sérgio Porto. Dentre suas performances estavam Rambo/Rimbaud, OVIDEO e Lovely Babies.
Durante os anos 90 Márcia X. iniciou uma de suas mais marcantes séries – Fábrica Fallus – continuou a desenvolver até 2005.
Com Fábrica Fallus Márcia X. participou de diversas exposições como o 18º Salão Nacional de Artes Plásticas, na FUNARTE (Museu Nacional de Belas Artes) e Arte Erótica, no MAM do Rio, em 1993; Imagens Indomáveis, na Escola de Artes Visuais Parque Lage, em 1994; Correspondências, no Paço Imperial e Infância Perversa, no MAM do Rio, MAM da Bahia, Salvador, em 1995.
Também em 1995 Márcia X. realizou uma das mais importantes individuais de sua carreira - Os Kaminhas Sutrinhas, no Espaço Cultural Sérgio Porto, no Rio.
Segundo Sergio Bessa, em seu texto X-Rated (duas ou três coisas qu’eu sei dela) para a Revista Item, “Márcia X. repetidamente assume uma entidade infantil. Na instalação Arte Erótica (MAM, 1993) e na sua individual na Galeria Sérgio Porto (1995), por exemplo, a escala dos trabalhos bem como a escolha de os instalar ao nível do chão convidava o espectador a assumir uma postura (física) que o trouxesse ao nível da criança. Para devidamente apreciar sua arte o espectador deveria regredir a um estado infantil. Esta estratégia é ambiguamente passiva e agressiva, pois transforma objetos pornográficos em brinquedos infantis, ao mesmo tempo que torna brinquedos infantis em agressivos objetos eróticos”.
Em 1997 realizou a instalação individual Soberba, no Paço Imperial, Rio.
Em 1999 participou da coletiva O Objeto Anos 60/90 no MAM do Rio e no Itaú Cultural, em São Paulo. Ainda no mesmo ano participou de outra coletiva Máquinas de Arte, no Itaú Cultural, em São Paulo.
Em 2000 participou das coletivas Deslocamentos do Feminino, no Conjunto Cultural da Caixa, no Rio; O Século das Mulheres – Algumas Artistas, na Casa de Petrópolis – Instituto de Cultura, Petrópolis; e Os 90, no Paço Imperial, Rio.
De 2001 a 2002 participou do Panorama da Arte Brasileira, que itinerou pelo MAM de São Paulo, MAM do Rio e MAM de Salvador. No mesmo ano participou da III Bienal do Mercosul, Porto Alegre e da Temporada de Projetos, no Paço das Artes, em São Paulo.
Em 2001 Márcia X. e Ricardo Ventura realizaram duas coletivas - Orlândia e Nova Orlândia - que reuniram artistas em um imóvel vazio e em obras. A iniciativa da dupla mobilizou também curadores e críticos de arte que também participaram com suas obras deste projeto coletivo. As instalação foram consideradas pelos críticos de arte as mais importantes mostras daquele ano. Em 2002 participou, em parceria com Ricardo Ventura, com a performance Complexo de Alemão do evento Rio cena contemporânea, no Largo da Carioca, Rio.
Em 2003 a dupla realiza outra coletiva: Grande Orlândia - Artistas Abaixo da Linha Vermelha, a terceira e última da série. No mesmo ano realizou também em parceria com Ricardo Ventura a performance Poralelogramo no evento Alfândega, no Armazém 5, no Cais do Porto, Rio. No mesmo ano participou do MIP- Manifestação Internacional de Performance, organizada pelo Centro de Estudos e Informação de Arte, Belo Horizonte.
Em 2005 participou das exposições coletivas Arte Brasileira Hoje, no MAM do Rio; O Corpo Na Arte Brasileira, no Itaú Cultural, São Paulo; e Educação, Olha!, na galeria Gentil Carioca, Rio. E ainda Muestras Rituales, com a vídeo-instalação Ação de Graças, na FUNCEB, Buenos Aires, Argentina. No final do ano Márcia X. participará ainda da coletiva Erótica, no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo, Rio e Brasília.
A partir de 2000 Márcia X. viu reconhecido seu trabalho por parte da crítica especializada. Inúmeros convites se seguiram e, entre os mais importantes podem ser destacadas suas participações no Panorama das Artes (São Paulo e Rio) com a performance Pankake, na Bienal do Mercosul (Porto Alegre), com a performance Ação de Graças, e na instalação Os 90 (Rio), com a instalação Reino Animal. É deste ano a performance Desenhando com Terços, realizada pela primeira vez na Casa de Petrópolis. Nela Márcia X., de camisola branca, usou 400 terços para realizar desenhos de pênis no chão em uma sala de cerca de 20 metros quadrados.
Em 2003 e 2004 realizou duas das mais emblemáticas performances de sua carreira: Alviceleste e Cadeira Careca / Le Chaise Chouve, respectivamente. Na primeira, nas Cavalariças da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Márcia despejou tinta azul de caneta tinteiro em funis de vidro pendurados no teto. A tinta escorria por finas correntes e impregnava o chão de gesso formando manchas azuis. Na segunda, em parceria com Ricardo Ventura, barbeou uma chaise longue Le Corbusier Le Cobusier, Charlotte Perriand e Pierre Jeanneret, de couro de vaca, nos pilotis do edifício Gustavo Capanema, antiga sede do Ministério da Cultura, no centro do Rio. Nesta homenagem a Le Courbusier os artistas citaram também Le Dejeuner en Fourrure, de Meret Oppeheim, obra fundamental para o movimento surrealista.
Com uma carreira firme e independente, imune às críticas e sucessivos cortes de participação em salões e outras mostras e também à censura e ao cancelamento de diversas performances, Márcia X. foi uma artista como poucas. Sempre atenta à sua importância no meio artístico, Márcia X. seguiu em frente, lutando contra o que chamou de “enorme descrédito em relação à performance”.




Texto de Márcia sobre as performances


“Desenhando com Terços”, “Pancake”, “Ação de Graças”, “Ex-machina”, “Cair em Si”, são performances/instalações criadas entre 2000 e 2002 reunindo componentes característicos da religiosidade brasileira e de obsessões culturalmente associadas às mulheres, como sexo, beleza, alimentação, rotina, consumo e limpeza. Nestes trabalhos, imagens e ações habituais parecem contaminados pela lógica dos milagres, contos da carochinha, sonhos e pesadelos.
O uso de roupas brancas, camisolas e saias pregueadas, contribui para evocar enfermeiras, freiras, noivas, estudantes, filhas de Maria, boas meninas e boas moças, agindo no limite entre a consciência, o sono e o transe religioso. As ações propostas – lavar terços, encher copos de mingau, derramar leite condensado na cabeça, permanecer deitada, e outras – são repetidas e executadas até a exaustão física, até o fim do espaço, do material ou do tempo. Sabão em pó, grama, terços católicos, bacias, são materiais e objetos muito comuns, mas ao serem usados de forma deslocada, como os galos nos quais enfio meus pés (galos de verdade cravejados de pérolas) em “Ação de graças”, levam-nos a perceber como são absurdas imagens até então consideradas corriqueiras e inofensivas. Por exemplo, pessoas usando pantufas em forma de coelhos de pelúcia. As instalações resultantes da ação das performances permanecem em instalação, sendo simultaneamente o registro desta ação.




Márcia X.


Texto para a exposicao de Marcia X. em Berlim 2006

Cláudia Saldanha


Márcia X. desde cedo elegeu a performance como linguagem principal. Suas primeiras inserções no circuito artístico datam do início dos anos 80. Nas produções iniciais havia a intenção de questionar, através da ironia e do estranhamento, o papel do artista e da arte na sociedade.

Em 1987, na performance “Tricyclage” Márcia X. e Alex Hamburger invadiram o palco da Sala Cecília Meireles, importante sala de concertos do Rio, pedalando 2 velocípedes durante a execução de uma peça de John Cage, “Winter Music”, com a presença do próprio, mas sem a sua permissão, e renomeando a peça como “Música para 2 velocípedes e pianos”.

Os anos 90 foram definitivos no estabelecimento de novos parâmetros para a obra de Márcia X. São desta época as instalações com objetos e artigos adquiridos em lojas e camelôs. No Saara , Márcia buscava imagens banalizadas, veiculadas em larga escala e objetos eróticos. A Série Fábrica Fallus – originalmente intitulada Penys Lane - e a instalação Os Kaminhas Sutrinhas são alguns exemplos. A principal estratégia da artista era transformar objetos pornográficos em objetos infantis e objetos infantis em objetos pornográficos, fundindo elementos que estão situados por convenções sociais e códigos morais em posições antagônicas.

No início dos anos 2000 Márcia X. realizou suas obras mais emblemáticas. Deixando de lado a crítica direta e corrosiva adotou um estratagema que conjugava uma pesquisa estética e formal a uma voraz experimentação. Márcia X. retomou a performance como linguagem principal e voltou a inserir sua imagem no campo simbólico da obra. Em Desenhando com Terços, a artista vestindo uma camisola branca usou centenas de terços para realizar desenhos de pênis no chão de uma sala.

Em Alviceleste, tingiu-se com o azul da caneta tinteiro, meio escrito, meio celeste, integrando assim sua existência terrena, material, a uma instância etérea, celestial. Realizada apenas uma vez na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio, em 2003, a instalacão consistia num ambiente cheio de funis de vidro pendurados no teto nos quais a artista derramava tinta azul que, após um breve lapso de tempo, escorria lentamente manchando o chão, lembrando-nos a obra Anthropometries of the Blue Period de Ives Klein.

Neste período Márcia X. e seu marido, o artista Ricardo Ventura consolidaram uma parceria que resultou em diversas performances em locais públicos. Em A Cadeira Careca / La Chaise Chauve , a última e provavelmente a mais importante de suas performances a dupla raspou o pêlo de um exemplar da chaise longue model nr. B 306 de Le Corbusier no pilotis do edifício Gustavo Capanema, no centro do Rio. O prédio construído entre 1939 e 1945, cuja concepcão inicial foi de Le Corbusier, é um importante marco nas transformações ocorridas na arquitetura mundial no século XX. Nele o pensamento modernista na arquitetura foi aplicado pela primeira vez em escala monumental.

A atividade performática de Márcia X., iniciada em 1980, filia-se à linguagem experimental dos anos setenta. Sua morte prematura, em fevereiro de 2005, aos 45 anos interrompeu um percurso que começava a acumular convites para importantes mostras no Brasil e no exterior. No Brasil, artistas como Hélio Oiticica e Tunga e no exterior artistas também performáticos como Ana Mendieta para citar apenas alguns, exerceram certa influência.

Sem levantar bandeiras, a obra de Márcia X. transcende suas referências. Trajando quase sempre roupas brancas, camisolas e saias pregueadas, evocando segundo a própria artista “enfermeiras, freiras, noivas, estudantes, prostitutas e boas meninas para agirem no limite entre a consciência, o sono e o transe religioso, imagens e ações habituais parecem contaminados pela lógica dos milagres, contos da carochinha, sonhos e pesadelos”.


Cláudia Saldanha.

Márcia X morreu em 02 de fevereiro de 2005 na cidade do Rio de janeiro aos 45 anos de idade vítima de um câncer de pulmão.


OBRAS

BABY BEEF
1988





SOAP OPERA
1988





EXPOSIÇÃO DE ÍCONES GÊNERO HUMANO
1988





MILAGRE
1991





SEM TÍTULO,
SÉRIE FÁBRICA FALLUS
1992-2004




SEM TÍTULO,
SÉRIE FÁBRICA FALLUS
1992-2004





SEM TÍTULO,
SÉRIE FÁBRICA FALLUS
1992-2004





SEM TÍTULO,
SÉRIE FÁBRICA FALLUS
1992-2004




SEM TÍTULO,
SÉRIE FÁBRICA FALLUS
1992-2004





SEM TÍTULO,
SÉRIE FÁBRICA FALLUS
1992-2004





SEM TÍTULO,
SÉRIE FÁBRICA FALLUS
1992-2004




SEM TÍTULO,
SÉRIE FÁBRICA FALLUS
1992-2004




EN NOMBRE DEL PADRE,
SÉRIE FÁBRICA FALLUS
1994





OS KAMINHAS SUTRINHAS
1995





BONECA
1996




SEM TÍTULO
1996



FIU-FIU, SÉRIE FÁBRICA FALLUS
1996





IMAGEM
1997






SOBERBA
1997






PAPAI, PAPAI
1997-1999







PAI E FILHO,
SÉRIE FÁBRICA FALLUS
1997




REINO DISTANTE
1998







REINO DOS CÉUS
2000





REINO ANIMAL
2000





SEM TÍTULO
2004-2005





SEM TÍTULO
2004-2005





PERFOMANCES



Cozinhar-te
1980





Chuva de Dinheiro
1983




Tricyclage
1985





Sex Manisse
1985







Macambiada Volante
1985







Academia Performance
1987






Bufê Bugiganga
1992







Lovely Babies
1993







Desenhando com terços
2000-2003






Pancake
2001




Ação de Graças
2002





Cair em Si
2002






Complexo de Alemão
2002






Ex-Machina
2002




Lavou a Alma com Coca-Cola
2003






Alviceleste
2003






Poralelogramo
2003







A Cadeira Careca/La Chaise Chauve
2004






 MAIS ARTE DE MÁRCIA X




































































FOTO RARA DE MÁRCIA X EM UMA PERFORMANCE




















FONTE: WIKIPÉDIA

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